sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Capítulo 2 - Simplesmente Demi

*Obs (novamente, só para enfatizar): Não sei se vocês irão gostar dessa história, porque ela é completamente diferente de tudo o que eu já postei aqui no blog. Se não estiverem gostando me avisem, pelo o amor de Deus, ok? haha É sério!!! Me avisem!!


Capítulo 2

Então, você é uma princesa?

— Você está de brincadeira.
Selena, minha melhor amiga de todos os tempos, tinha acabado de receber a notícia e reagiu com ceticismo.
— É verdade. Sou uma princesa. Meu pai é o rei Andrej Markov, da Krósvia.
Antes que pudesse ser pega pelo professor de Direito Penal, Selena se escondeu atrás do livro e segurou uma gargalhada. Alguns instantes depois, jogou um bilhete para mim:
“Pare de brincar. Vou acabar levando uma suspensão por sua causa.”
Dei de ombros. Não poderia convencê-la durante a aula mesmo.
Um pouco mais tarde, sentada com ela na cantina da faculdade, tentei mais uma vez:
— Selena, sei que parece a maior maluquice do mundo, mas descobri  quem é meu pai e ele é, sim, o rei da Krósvia. Na verdade, foi ele quem me achou e ontem mesmo tivemos uma conversa reveladora no hotel onde ele está hospedado.
Contei para Selena tudo o que ficara sabendo por Andrej e, depois, por minha mãe, quando já estávamos em casa, a sós. E minha mãe tinha confirmado a história toda, nos mínimos detalhes. Mas, ao contrário do que eu estava pensando, meus avós também não sabiam de nada: acreditavam tanto quanto eu que o namorado europeu é que tinha dado no pé ao saber da gravidez. Ainda bem. Menos dois mentirosos, pensei.
— Então, você está me dizendo que é filha de um rei? — A expressão no rosto de Selena já não era mais de ironia. — E agora? — indagou ela, abrindo um sorrisão todo satisfeito. — Você vai ser coroada? Caramba, Demi, já parou para pensar que você agora vai ser uma celebridade? Vai aparecer em tudo quanto é revista e vai ser disputada por jornalistas daqui e da Europa! E vai ganhar um monte de roupas e sapatos de grife! Uau! Que demais!
Sinceramente, tem horas que eu acho que Selena vive em outro planeta. Eu conto para ela que finalmente tenho um pai e a garota só pensa em futilidades!
— Por que eu ganharia roupas, Selena?
Ela revirou os olhos, como se minha pergunta tivesse sido ridícula.
— Minha filha, todo mundo vai querer vestir a mais nova princesa do pedaço.
— Eu estou mais preocupada em descobrir como vou lidar com isso agora. Meu pai quer que eu vá ficar com ele durante um tempo, para conhecer minhas origens e ser apresentada ao país dele. Eu não sei...
— Não sabe por quê? É claro que você tem que ir.
— É que não estou preparada para mudar minha vida assim — disse, enrolando uma mecha de cabelo entre os dedos. — Hoje estou aqui, sentada com você, tomando um suco de manga de caixinha, completamente anônima e dona do meu nariz. Se amanhã eu for para a Krósvia, não vou ter controle de mais nada. Vou ser vigiada e controlada o tempo todo, coisa que nunca fui, nem mesmo pela minha mãe, você sabe.
— Você está tomando por base os filmes da Sessão da Tarde. De repente, fazer parte da família real de um país pequeno como a Krósvia nem é tão sensacional assim. Aposto que as outras princesas e os príncipes de lá têm uma vida normal.
Soltei a mecha e suspirei.
— Aí é que está. Não existem outros príncipes e princesas. Meu pai não teve mais filhos e só tem uma irmã com filhos ainda pequenos, que nem são herdeiros do trono.
A gargalhada de Selena ecoou por toda a cantina.
— Herdeiros do trono? Parece que você está falando de um filme de época.
— É. Eu sei. É ridículo. Viu como eu não posso ir? Já me imaginou vestida de princesa, toda produzida e maquiada que nem as Barbies da sua irmã?
— Não seja dramática. Você tem que ir porque é a outra metade da sua história. Ser mineira, de BH, estudante de Direito e apaixonada pelo abestalhado do Nick é fácil. Você tira de letra. Só que você não é só isso e precisa descobrir como é ser de outro jeito, mesmo que depois prefira a forma antiga.
Sério. Às vezes, Selena me surpreende com sua filosofia. Mas ela não deixava de ter um pouco de razão, afinal.

*
— O que sua mulher, quero dizer, a rainha, acha de tudo isso? — perguntei a Andrej, assim que me encontrei com ele de novo, mais tarde.
Eu estava sentada em uma poltrona bem confortável, saboreando um maravilhoso café da tarde e pensando se a vida dele era sempre assim: luxo e comida com fartura.
— Ela morreu há dois anos, Demi — disse meu pai depois de um suspiro melancólico.
Coloquei a mão sobre a boca, chocada.
— Mas... o que houve com ela?
— Câncer.
— Puxa. Eu sinto muito mesmo. Deve ter sido muito triste para você — falei, com sinceridade.
— Sim. Para o país inteiro. A Elena era muito querida e carismática. E jovem. Tinha acabado de fazer 45 anos.
Nossa! Definitivamente, o dinheiro não é capaz de salvar tudo, não é mesmo?
— Por que não tiveram filhos? — ousei perguntar. Já que estávamos nesse processo de recuperação do tempo perdido, achei que não faria mal me envolver mais. Juro que não perguntei só por curiosidade.
— Ela teve. Quando nos casamos, a Elena já tinha o Joseph, mas não podia mais engravidar porque tivera que retirar o útero.
— Ela era mãe solteira? — Eu quase gritei ao fazer a pergunta. E minha mãe com medo de ser rejeitada...
— Viúva. Então, nós nos casamos e criamos o Joe como se ele fosse de nós dois. Só que ele não é meu sucessor ao trono, porque nossa legislação não permite isso para filhos adotivos.
— Então você o adotou?
— Não no papel. A Elena não quis porque o Joe tinha conhecido o pai biológico e gostava muito dele. — Andrej sentou-se a meu lado e tocou a ponta de meu nariz. — Mas ele é como um filho para mim, assim como você é minha filha.
Sorrimos um para o outro.
Eu nunca tinha conhecido um rei de verdade e sempre pensei que eles fossem pomposos e esnobes. Mas Andrej Markov, meu pai, é o contrário disso, o que me deixa muito feliz. Já pensou se eu tivesse que conviver com uma pessoa intratável, arrogante e soberba só por causa do grau de parentesco?
— Quantos anos o Joseph tem hoje? — quis saber. Já deu para notar que sou muito curiosa, não?
— Humm... — ele parou para pensar. Homens! — Acho que 25. Hoje ele não mora mais comigo, no Palácio Sorvinski. Desde que saiu da escola, ganhou sua independência e viveu vários anos fora do país, nos Estados Unidos.
— Então, você está sozinho? Digo, não tem companhia no palácio?
— O que mais tenho é companhia — disse Andrej, com humor. — Você vai ver só quantas pessoas moram lá comigo.
Abaixei a cabeça. Ainda não tinha certeza se queria mesmo conhecer minhas origens europeias. O medo permanecia à espreita.
— Andrej, eu... não sei se posso sair do Brasil agora. Você sabe, tem a faculdade e eu faço estágio num escritório de advocacia. É complicado.
Ele pareceu decepcionado, mas não desistiu.
— Filha, você pode trancar matrícula por um semestre. Não precisa ficar na Krósvia mais do que seis meses, se não quiser. Mas acho que não pode virar as costas para parte do que é. Lá também é o seu lugar e, se não tivesse sido por todo esse mal-entendido, você teria vivido na Krósvia a vida inteira. Eu não estou pedindo para você assumir o trono ou começar a governar o país junto comigo. Nem para abandonar o Brasil de vez e esquecer o que viveu aqui. Será só uma experiência. Eu prometo.
Bem que eu gostaria de acreditar em tudo isso, porque uma parte de mim queria muito ir com ele. Mas havia muitos fatores a considerar, como minha mãe, meus avós, meus amigos, Nick.
Com Nick, era um pouco diferente. Não é como se fôssemos namorados nem nada. Estávamos começando o que poderia ser uma relação duradoura, e viajar agora poderia significar o fim. Os homens não são muito de esperar, principalmente quando o vínculo ainda não é tão forte. Mas eu gostava dele e queria mesmo investir nesse relacionamento. Ou seja, mais um empecilho para minha temporada na Krósvia.
Será que estou sendo ridícula?

*
— É claro que está!
Vovó foi enfática. Para ela, não existia um porém. Era só questão de ajeitar a parte burocrática (trancar matrícula, pedir demissão, fazer o passaporte) e partir. Eu não tinha o que pensar a respeito.
— Você encontrou seu pai. Ele quer muito passar um tempo com você. O fato de ele ser um rei é só um detalhe. Não pode deixar passar essa oportunidade.
— Um detalhe? Vovó, não é como se ele fosse só rico. Ele é um rei! Isso não é só um detalhe.
Ela torceu o nariz.
Minha avó é minha segunda mãe. Boa parte de minha infância foi passada na casa dela, com meu avô também. Por isso, há muita afinidade entre nós e não temos receio de falar tudo uma com a outra. Estamos acostumadas com esse excesso de sinceridade, que com minha vó é até maior do que entre mim e minha mãe.
— Se você não for, vai ser como fugir, exatamente como a Dianna fez — profetizou ela, enquanto aumentava a velocidade da esteira ergométrica.
Ah! Esqueci de dizer. Vovó é tão preocupada com a aparência quanto sua filha, minha digníssima mãe. O dia em que ela não faz exercício é tão raro que eu nem me lembro mais de quando foi o último. Hoje, vovó está na esteira, mas também tem hidroginástica, ioga, pilates e dança de salão. Não esperem encontrar minha avó na cozinha, assando tortas. Ela não é como a maioria.
— Não é questão de fugir, puxa! Eu só acho que ainda não estou preparada para encarar tudo isso.
E foi assim com todo mundo. Ninguém achava que eu deveria esperar mais um pouco e me acostumar primeiro com a ideia de ser uma princesa antes de viajar para a Krósvia. Até mamãe foi a favor, pois ela também acreditava que os sentimentos de meu pai por mim eram verdadeiros e que ele queria mesmo que eu conhecesse e fizesse parte de seu mundo.
Assim que cheguei em casa, à noite, corri para meu quarto e liguei o computador. Havia várias mensagens em minha caixa de e-mail, a maioria banal. Só houve uma que realmente me interessou. Era de Nick, que dizia:

De: Nicholas Jonas
Para: Demetria Lovato
Assunto: Você existe?

Ei, lindinha! Tá sumida, hein? O que anda aprontando?
A gente precisa se ver... Tentei ligar pro seu celular hoje, mas só deu caixa postal. Quer encontrar comigo mais tarde? Posso te pegar na sua casa?

Beijão!
Nick J

A primeira coisa que fiz quando li a mensagem foi checar meu celular e, para minha surpresa, constatei que ele estava sem bateria.
Porcaria!
Eu queria muito ver Nick, mas, ao mesmo tempo, estava receosa. E se ele não quisesse me esperar? Ou se eu desistisse de ir por causa dele e depois me arrependesse? De qualquer forma, eu teria que descobrir o que aconteceria a seguir.

De: Demetria Lovato
Para: Nicholas Jonas
Assunto: Sim. Existo.

Oi!

Desculpa por ter desaparecido.
É que aconteceram umas coisas e eu fiquei super envolvida.
Também quero te ver, até porque preciso te contar uma história. Pode me pegar às oito?

BJ

Mal terminei de enviar o e-mail e Nick me chamou no Skype. Acho que ficou curioso e não quis esperar até a noite para saber a tal história.

Nick: O que houve? problema?
Demi: Não. Ou melhor, talvez seja um problema, sim. Mas não é nada sério.
Nick: Não vai contar?
Demi: Nem sei por onde começar, hahaha É complicado.
Nick: Tente. Eu to aqui. Não vou a lugar nenhum.
Demi: Valeu... é que eu descobri ontem quem é meu pai.
Nick: Sério?! mas isso é ótimo! né??
Demi: Sim, é ótimo. Ele é super legal e ficou muito a vontade comigo. Ele nem sabia que eu existia, acredita? foi pura coincidência ter me encontrado.
Nick: Jura? que incrível! mas então, qual é o problema? quero dizer, já que ele é legal e tal...
Demi: Bom, é que meu pai não é brasileiro. E ele quer que eu fique uns tempos c/ ele, para a gente se conhecer melhor e também para eu ver o lugar onde ele mora.
Nick: Você vai morar com ele? tipo, sair do Brasil?
Demi: Isso, mas só por uns meses.
Nick: Entendo. mas você não disse de onde seu pai é
Demi: De um país pequenininho na Europa, entre a Itália e a Eslovênia. O nome é KRÓSVIA.
Nick: KRÓSVIA?! Mas fica longe pra caralho! pow! nunca pensei que vocÊ fosse descendente de europeus.
Demi: Nem eu. Para dizer a verdade, eu já tinha me conformado em ter só mãe. parei de pensar nas minhas origens paternas ha muito tempo.
Nick: Eu achei legal.
Demi: Serio? pensei que você fosse ficar triste.
Nick: Demi, entende que você não pode deixar de ir? é a sua história e nada pode te forçar a ficar. é claro que vou ficar triste, a gente ta começando um lance legal e eu queria investir nisso. mas a gente pode esperar um pouco, né?
Demi: Quer dizer que você ta dando um tempo, tipo, até eu voltar?
Nick: Não é isso, sua encucada. quero dizer que to disposto a esperar. você não leu direito? Eu disse que quero investir na gente. não importa o tempo que vc vai ficar lá na... Krosvia, é isso?
Demi: Isso. Bom, também penso assim, mas não posso impor nada... você tem toda a liberdade de pular fora. não estamos namorando.
Nick: não?
Demi: estamos?
Nick: kkkkkkkk
Demi: ????????
Nick: podemos chamar o que temos um com o outro do que você quiser.
Aninha: Ta. Então vamos deixar para dar nome ao nosso... lance quando eu voltar. justo?
Nick: Como quiser. quando é que você vai pra lá?
Demi: Não sei. ainda nem dei a resposta ao Andrej, digo, meu pai. mas ele precisa voltar logo, por causa dos... negócios.
Nick: E o que ele faz lá?
Demi: Jura que não vai rir?
Nick: XD
Demi: Ele é... bom... o rei do pais.
Nick: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

*
— Você não pode estar falando sério.
Estava sentada em frente a Nick numa lanchonete aonde resolvemos ir depois do cinema. Contemplava a expressão dele, que demonstrava um misto de dúvida e divertimento.
Fazia três meses que estávamos saindo e ainda eu não me acostumara com sua aparência. Isso porque Nick é um cara bem bonito, daqueles que vivem sendo perseguidos pelas garotas — e até por alguns caras também.
Ele é alto e moreno e meio musculoso, mas não em excesso como aqueles lutadores do Ultimate Fighting. Tem cabelos escuros e olhos profundos, que me deixaram sem ar quando os vi pela primeira vez, numa festa da universidade.
Desde esse dia a gente vinha se encontrando com frequência e não era segredo para ninguém que eu estava bastante interessada... Afinal, não é todo dia que a gente encontra um cara lindo, sexy, legal e disponível por aí.
Portanto, se essa minha ida súbita para a Krósvia não esfriasse nosso affair, teríamos um futuro.
— Não, Nick, isso é sério. Entra lá no Facebook que você vai ver a mensagem que o Andrej mandou para mim. Pode parecer assustador e sinistro, mas é a mais pura verdade.
Meu possível futuro namorado exalou o ar devagar.
— Isso significa que você é uma princesa?
Por que essa tem que ser a primeira constatação de todo mundo?
— Seja lá o que isso signifique na Krósvia — respondi, cansada.
— Bom, quem diria, hein? Quando essa notícia vazar, ninguém vai te deixar em paz.
— Eu sei. Vai ser terrível. Só espero já estar bem longe quando isso acontecer. Não quero ser bombardeada pelos fofoqueiros de plantão.
— Pois então se prepare. A imprensa da Krósvia vai ficar muito mais ouriçada do que a nossa. — Nick segurou minha mão, transmitindo um calor reconfortante. Se eu pudesse ter um pouco de meus dois mundos ao mesmo tempo, encararia tudo com mais facilidade.
— Por favor, não vamos mais falar sobre esse assunto, tá? — pedi. Cheguei bem perto dele e toquei seu rosto. — Será que podemos aproveitar o tempinho que nos resta? Vou embora no fim da semana.
Nick me deu um beijo leve e balançou a cabeça.
— Tão cedo?
— Sim — suspirei, voltando a me recostar na cadeira. — Quanto mais cedo eu for, mais rápido volto.
Fiz uma careta nada graciosa.
— Desse jeito, parece que você está indo para a forca. Se liga, Demi! Aproveita a viagem. Vai ser legal, você vai ver.
Sorri. Nick tinha razão. Eu estava sendo boba. Mas é difícil relaxar quando uma vozinha fica sussurrando na sua cabeça coisas do tipo:

Prepare-se. Nada será como antes.

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