sábado, 10 de agosto de 2013

Easy - Capítulo 3

Eu obedientemente mandei um e-mail para o tutor de Economia quando voltei para o dormitório depois da aula, e comecei a minha lição de casa de História da Arte. Enquanto digitava uma dissertação sobre um escultor neoclássico e sua influência sobre o estilo, murmurei um agradecimento à minha neurose interior, que pelo menos consegui manter longe de minhas outras matérias.
Com Selena no trabalho, eu poderia me entregar completamente a uma noite tranquila de estudos. Aqui no nosso quarto microscópico, ela não podia deixar de ser uma distração quase permanente. Enquanto eu tentava estudar um pouco para um teste de álgebra na semana passada, a seguinte conversa aconteceu: “Eu tinha que ter essas sapatilhas para o meu trabalho, Papai!, argumentou em seu celular. “Você disse que queria que eu aprendesse o valor do trabalho enquanto estou na escola, e você sempre diz que uma pessoa deve se vestir para o sucesso, por isso estou apenas tentando seguir suas palavras de sabedoria”.
Quando ela olhou para mim, eu revirei os olhos. Minha companheira de quarto era uma anfitriã em um restaurante pretensioso no centro da cidade, uma posição que frequentemente usava como desculpa para gastar além do seu orçamento para roupas. Sapatos de trezentos dólares, essenciais para um trabalho que paga nove dólares por hora? Eu sufoquei minha risada quando ela piscou para mim. Seu pai sempre cedia, especialmente quando ela utilizava a palavra com P – Papai.
Eu não estava esperando uma resposta rápida de Jace Maxfield. Como veterano e tutor de uma turma enorme como a do Dr. Heller, ele tinha que estar ocupado.
Eu também estava certa de que ele não estaria nem um pouco excitado em ajudar uma estudante do segundo ano que tinha perdido o exame bimestral e duas semanas de aula, e que nunca tinha assistido a uma de suas sessões de monitoria. Eu estava preparada para mostrar a ele que eu trabalharia duro para me recuperar e sair do pé dele tão rapidamente quanto possível.
Quinze minutos depois de eu ter mandado o e-mail para ele, a campainha da minha caixa de entrada soou. Ele respondeu, no mesmo tom formal que eu tinha escolhido depois de alternar entre o uso de seu nome ou sobrenome no endereço, e finalmente me decidir por Sr. Maxfield.

Srta. Lovato,
O Dr. Heller me informou da sua necessidade de recuperar o atraso em Macro e o projeto que você precisa completar a fim de substituir a nota bimestral. Desde que ele aprovou que você faça este trabalho, não há necessidade de compartilhar comigo a razão pela qual você está tão atrasada.
Estou empregado como tutor, de modo que estes atrasos fazem parte das minhas atribuições de trabalho.
Podemos nos encontrar no campus, de preferência na biblioteca, para discutir o projeto. É detalhado e vai exigir uma grande quantidade de pesquisa externa de sua parte.
Fui instruído pelo Dr. Heller quanto ao nível de assistência que eu deveria fornecer. Basicamente, ele quer ver o que você pode fazer sozinha. Estarei disponível para perguntas gerais, é claro.
Minhas sessões de monitoria em grupo são Seg-Qua-Qui das 13h00min às 14h00min, mas cobrem apenas a matéria atual. Eu suponho que você vai precisar de mais assistência para compreender a matéria que perdeu ao longo das últimas duas semanas. Deixe-me saber os horários em que você está disponível para me encontrar para sessões de monitoria individuais e vamos nos coordenar a partir disso.
JM

Eu apertei meu maxilar. Embora perfeitamente educado, o tom de seu e-mail rescendia à condescendência... Até a sua assinatura no final: JM. Ele estava sendo amigável, casual, ou ridicularizando minha tentativa de soar como uma estudante séria e madura? Eu fiz alusão ao rompimento em meu e-mail, esperando que ele não quisesse ou pedisse detalhes. Agora eu me sentia como se ele não só tivesse evitado se informar sobre os detalhes, mas também pensado menos de mim, por deixar uma crise de relacionamento afetar a minha vida acadêmica.
Eu li o seu e-mail novamente e fiquei ainda mais furiosa. Então ele pensava que eu era idiota demais para compreender o material do curso por conta própria?

Sr. Maxfield,
Eu não posso participar de suas sessões porque eu tenho História da Arte Seg-Qua, das 13h00min às 14h30min, e eu sou tutora no ensino médio nas tardes de quinta-feira. Eu vivo no campus e estou disponível para me encontrar nos finais de tarde de segunda-feira/quarta-feira, e quase todas as noites. Eu também estou livre nos fins de semana quando não estou como tutora.
Eu comecei a ler o material do curso sobre PIB, IPC e inflação, e eu estou trabalhando nas questões de revisão do final do capítulo 9. Se você quer me encontrar para transmitir os requisitos do projeto, eu tenho certeza de que posso acompanhar o curso regular sozinha.
Demetria.

Eu apertei enviar e me senti superior por cerca de vinte segundos. Na verdade, eu mal tinha olhado para o capítulo 9. Até agora, ele se parecia menos com gráficos de oferta e demanda e mais com uma falação com cifrões e mudanças confusas, jogadas ali para diversão. Assim como PIB e IPC, eu sabia o que essas siglas significavam... Mais ou menos.
Oh, Deus! Eu tinha acabado de rejeitar, de maneira arrogante, o tutor fornecido por meu professor, o professor que não era obrigado a me dar uma segunda chance, mas tinha dado. Quando o meu e-mail soou novamente, eu engoli antes de clicar sobre ele. Um novo e-mail de Jace Maxfield estava no topo da minha caixa de entrada.

Demetria,
Se você prefere recuperar o atraso sozinha, a escolha é sua, é claro. Eu vou reunir as informações sobre o projeto e nós podemos nos encontrar, digamos, quarta-feira logo após as 14h00min?
JM
PS. Você é tutora em que?

Sua resposta não parecia zangada. Ele era gentil. Legal, até. Eu estava tão emocional ultimamente que eu não podia julgar nada claramente.

Jace,
Dou aulas particulares para estudantes da orquestra do ensino médio e superior de contrabaixo. Acabei de me lembrar de que eu concordei em auxiliar no transporte de dois dos instrumentos de meus alunos para uma apresentação nesta quarta-feira à tarde. (Eu dirijo uma caminhonete, para acomodar o transporte do meu próprio instrumento, e agora eu sou constantemente inundada com pedidos para transportar grandes instrumentos musicais, sofás, colchões...)
Você está livre qualquer noite? Ou sábado?
DL

Eu tocava contrabaixo desde que eu tinha dez anos. Na quarta série, um dos dois baixistas da orquestra tinha se machucado no futebol da liga estudantil, no segundo final de semana de escola, resultando em uma clavícula quebrada. Nossa professora de música, Sra. Peabody, tinha olhado para o vasto mar de tocadores de violino e pedido a alguém para mudar. — Qualquer um? — Ela chiou. Quando ninguém se ofereceu, eu levantei a minha mão.
Mesmo o instrumento com a metade do tamanho me escondia, naqueles tempos; eu precisava de um banquinho para tocá-lo, fato que havia fornecido a meus colegas de orquestra uma diversão sem fim. A ridicularização não parou na escola.
— Querida, não é um instrumento estranho para uma garota escolher tocar? — Minha mãe perguntou. Ainda petulante sobre a minha rejeição de aprender piano, seu instrumento preferido, em favor do violino, ela foi imediatamente contra minha nova preferência.
— Sim. — Eu olhei para minha mãe e ela revirou os olhos. Ela nunca perdeu o seu desdém pelo instrumento que eu aprendi a amar tocar, pela maneira que ele fundamentava e dirigia o resto da orquestra. Eu também adorava a descrença no rosto de companheiros concorrentes em competições regionais, sua garantia de que eu não era tão boa quanto eles eram por causa do meu sexo e a maneira como eu provava que era melhor.
No ano passado, eu dei aulas para estudantes locais, todos eles meninos, cada um deles algum tipo presunçoso e impertinente, até que me ouviam tocar.

Demetria,
Contrabaixo? Interessante.
Estou ocupado todas as noites nesta semana, e na maioria dos fins de semana também. Eu não quero que você perca tempo com isso, então eu vou lhe mandar as informações do projeto hoje à noite, e podemos discuti-lo por e- mail até que possamos sincronizar nossas agendas. Isso funcionaria para você?
JM
PS - Eu vou me lembrar de você se eu comprar um aparelho grande ou precisar me mudar.

Jace,
Obrigada, sim, isso seria ótimo! (Re: enviar as informações do projeto, quer dizer, não a decisão descarada de me usar, pela capacidade de transporte de minha caminhonete. Você não é melhor do que meus amigos! Eles escapam do aluguel de um caminhão e das taxas de entrega e eu sou paga em cerveja.)
DL

Demetria,
Enviarei os detalhes do projeto quando eu chegar em casa, e nós podemos discuti-lo.
O sistema de troca no trabalho é apenas economia primitiva, você sabe. (E você tem idade suficiente para cerveja?)
JM

Jace,
Longe de mim, censurar um uso eficaz da economia pré-histórica. E eu suponho que amigos que pagam em cerveja são melhores do que amigos que não pagam nada. (Re: Minha idade – eu não acredito que as atribuições do trabalho de Tutor de Economia deixam você a par desse tipo de informação pessoal.)
DL

Demetria,
Touché. Eu vou ter que confiar em você em não ser preso por estar fornecendo álcool para menores.
Você está certa, estudantes universitários empobrecidos e carentes de automóveis, como eu, deveriam respeitar os métodos testados-e-aprovados para negociações de transporte.
JM

Sorri para a sua admissão sincera de estar sem carro, meu rosto caiu quando eu contrastei isso com o sentimento de convencimento que Kennedy tinha com seu carro. Logo antes de nos formarmos, seus pais deram o Mustang dele, de apenas dois anos, ao seu irmão de dezesseis anos de idade, que tinha destruído seu Jeep no fim de semana anterior. Como um presente antecipado de formatura, eles substituíram o Mustang de Kennedy por uma BMW nova em folha, polida e preta, com cada opcional disponível, incluindo assentos de couro felpudos e um sistema de som que eu poderia ouvir de um quarteirão de distância.
Droga! Eu tinha que parar de ligar cada coisa que me acontecia com Kennedy. Uma constatação apareceu então, que ele ainda era meu padrão. Nos últimos três anos, nós havíamos nos tornado o hábito um do outro. E apesar dele ter quebrado o hábito de mim quando ele foi embora, eu não tinha quebrado meu hábito dele. Eu ainda estava acorrentando ele ao meu presente, ao meu futuro. A verdade era que ele agora pertencia somente ao meu passado, e que era hora de começar a aceitar, tanto quanto doesse fazer isso.
Assim que chegamos ao campus no primeiro ano, Kennedy comprometeu-se com a fraternidade de seu pai. Apesar da necessidade do meu namorado por ingressar naquela facção, eu nunca tinha compartilhado essa aspiração. Ele não pareceu se importar quando eu disse que preferia não me precipitar por qualquer irmandade, enquanto eu o apoiasse em sua necessidade futura e política pela fraternidade. Ele me disse, uma vez, que ele meio que gostava que eu fosse uma namorada IPC.
— Uma IPC? O que é isso?
Ele riu e disse:
— Isso significa que você é independente pra cacete.
Quando ele saiu do meu quarto há quase três semanas atrás, não tinha me ocorrido que ele estava levando com ele o meu círculo social cuidadosamente cultivado. Sem o meu relacionamento com Kennedy, eu não recebia convites automáticos para festas ou eventos Gregos, apesar de Nick e Selena poderem me convidar para alguma coisa desde que eu me incluísse no título de coisas aceitáveis para levar a qualquer festa: álcool e garotas.
Impressionante. Eu tinha ido de namorada independente a objeto para festa.
Colidir com aglomerados de meus antigos amigos seria desconfortável, na melhor das hipóteses. Ali mesmo, fora da biblioteca principal, mesas de meninos de fraternidades vendiam suco, café e bolinhos, todas as manhãs por uma semana, para levantar dinheiro para treinamento de liderança. Armados com churrasqueiras portáteis, Tri-Deltas acampavam em tendas no gramado para mostrar a situação dos sem tetos. (Eu lembrei a Selena que era improvável que a maioria dos sem tetos possuísse churrasqueiras Coleman portáteis e equipamento de campismo das lojas REI e ela bufou e disse: “Sim, eu mostrei isso. Minha advertência entrou por um ouvido e saiu pelo outro.)
Eu não poderia deixar meu dormitório e andar em qualquer direção sem passar por pessoas com quem eu tinha tido relações descomplicadas, apenas alguns dias antes. Agora os olhos se afastavam enquanto eu andava, embora alguns ainda sorriam ou acenavam antes de fingir estarem conversando profundamente com outra pessoa.
Alguns poucos ainda gritaram: “Oi, Demi! Eu não tinha dito a eles que eu não estava mais usando esse nome.
No início, Selena insistiu que o desprezo estava na minha cabeça, mas depois de duas semanas, ela relutantemente concordou. “As pessoas sentem a necessidade de escolher um dos lados quando um relacionamento acaba, é a natureza humana. Ela disse, suas aulas de Psicologia do segundo ano contribuindo. “Concordo. Covardes! Gostei que ela estivesse disposta a ignorar sua análise imparcial em apoio a mim.
Não me surpreende que praticamente todo mundo tenha escolhido Kennedy. Ele era um deles, afinal de contas. Ele era expansivo, charmoso, futuro líder mundial. Eu era a namorada tranquila, bonita, mas um pouco estranha... Depois da separação, eu me tornei apenas uma estudante de graduação não-Grega para todos, menos para Selena.
Na Terça-feira, passamos pelo casal poderoso de reis do campus, Katie era presidente da irmandade de Selena e DJ era vice-presidente da fraternidade de Kennedy. “Oi, Selena! Ótimo visual! Katie disse, como se eu não estivesse lá. DJ inclinou o queixo e sorriu para Selena, seus olhos passando rapidamente por mim, mas ele não reconheceu minha existência mais do que sua namorada tinha feito. “Obrigada! Selena respondeu. “Cabeças de merda! ela murmurou logo depois, passando o braço pelo meu.
Quando eu mudei para meu dormitório há mais de um ano atrás, eu estava horrorizada ao encontrar-me com uma colega de quarto que encarnava o estereótipo de garota de irmandade. Selena já havia reclamado a cama mais próxima da janela. Acima de sua cabeceira, ela fixou brilhantes pompons do ensino médio, azuis e ouro e enormes recortes que soletravam — Selena — revestidos em glitter. Em torno das letras gigantes douradas, pôsteres com fotos de eventos de líderes de torcida e jogos de boas vindas, com jogadores de futebol gigantescos.
Enquanto eu estava parada boquiaberta, olhando o seu lado do nosso pequeno quarto com a luz de sua luminária, ela saltou pela porta.
— Oh, oi! Você deve ser Demetria! Eu sou Selena! — Diplomaticamente, eu não manifestei o comentário merda nenhuma que surgiu na minha cabeça. — Como você não estava aqui, eu escolhi uma cama, espero que você não se importe! Estou quase terminando as malas, para que eu possa ajudá-la. — Vestindo uma camiseta da faculdade que quase correspondia exatamente com seu cabelo acobreado puxado para cima, ela pegou minha mala mais pesada e a colocou na cama. — Eu coloquei um quadro branco na porta, para que possamos deixar mensagens uma para a outra, ideia da minha mãe, na verdade, mas me pareceu uma sugestão útil, você não acha?
Eu pisquei para ela, murmurando:
— Uh-huh.
Enquanto ela abria o zíper da minha mala e começava a retirar os pertences que eu trouxe de casa. Tinha que haver algum engano. Eu tinha preenchido uma folha com uma longa lista de preferências e atributos para minha colega de quarto, e esta garota parecia não ter nenhuma dessas qualidades desejadas. Eu me descrevi basicamente: uma calma e estudiosa rata de biblioteca que ia para a cama em uma hora decente. Uma não festeira que não traria um desfile de meninos através de nosso quarto, ou que ia fazê-lo se tornar a sede do andar para pingue-pongue de cerveja.
— É Demi, na verdade. — Eu disse a ela.
— Demi, tão bonitinho! Eu gosto de Demetria, porém, eu tenho que admitir. Tão elegante. Ok, Demi, onde devemos pendurar este pôster? Quem é essa?
Eu olhei para o pôster nas mãos dela, a representação de uma das minhas cantoras favoritas, que também tocava contrabaixo.
— Esperanza Spalding.
— Nunca ouvi falar dela. Mas ela é uma gracinha! — Ela pegou um punhado de tachas e pulou na minha cama para pressionar o pôster contra a parede. — Que tal aqui?

Selena e eu tínhamos percorrido um longo caminho em 15 meses.

~*~

Gente, eu tinha escrito no primeiro capítulo que era Joey, mas eu acabei mudando agora. Vai ser Joseph mesmo. Desculpem-me por isso.

Um comentário:

  1. PERFEITO
    Adorei a Demi descrevendo o primeiro dia dela com a Selena kkkkkk
    POSTA LOGO
    Beijos

    ResponderExcluir